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A construção e a adoção do termo “povos tradicionais” foram detalhadas por entrevistas com os públicos engajados/interessados, especialmente cientistas e antropólogos, para pontuar como algo muito recente na história do país. A “ambientalização das lutas sociais a partir dos anos 1980”, a “Constituição de 1988”, as “políticas públicas do primeiro mandato do governo Lula” foram os marcos mais citados.
Os povos indígenas foram mais mencionados que os demais povos tradicionais e, por isso, acabaram sendo o foco desta pesquisa.
Depois dos povos indígenas, os quilombolas foram os mais citados, ainda que por um número bem menor de pessoas de públicos engajados/interessados. “A questão dos quilombolas é muito interessante. Assim como os povos indígenas, foi só a partir de 1988 que a gente conseguiu formalizar a existência dos quilombolas como sujeitos, como povos que podem auferir direitos específicos.” Entrevistados apontaram que eles têm tido um pouco mais de visibilidade pública nos últimos anos e que há maior interesse e apoio financeiro por parte de doadores nacionais e internacionais, assim como indicado que a conexão com o movimento negro urbano seja encorajada e apoiada. Um número menor de pessoas mencionou os ribeirinhos e outros povos ainda muito invisibilizados. “Povos tradicionais, como os ribeirinhos, os seringueiros e outros não têm tido tanta deferência, tantos programas oficiais, ou projetos de ONGs e até dos pesquisadores de instituições de pesquisa públicas, quanto os povos quilombolas e os indígenas. Eles estão esquecidos, não têm os seus territórios demarcados e estão em regiões com muitos conflitos. Acho que isso é um imenso problema, ainda a ser consertado.”
A maioria desses entrevistados citou muito mais os povos indígenas na Amazônia. “A visibilidade e o fortalecimento dos povos indígenas na Amazônia se deram em um contexto muito particular. A Amazônia se transformou em uma grande questão global, que acabou fazendo com que as pessoas enxergassem os povos indígenas ali como experiências de existências humanas capazes de equilibrar os seus modos de ação sem correspondente de degradação ambiental.”
Na publicação “Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil - Contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças”, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), os cientistas ressaltam que “a Amazônia é o bioma sobre o qual se conseguiu reunir mais documentação, assim como há maior volume de informações sobre povos indígenas. Esse viés é atribuível à diferença no volume de fontes e de pesquisas. Por enquanto, são menos abundantes as fontes disponíveis sobre quilombolas e comunidades tradicionais.”
Diversos entrevistados, entretanto, discorreram sobre a necessidade de dar mais atenção aos indígenas que vivem em outros biomas, aos indígenas no Nordeste, aos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul e aos indígenas em grandes cidades como Manaus e São Paulo. “Mesmo as pessoas mais envolvidas com a pauta indígena em São Paulo estão mais interessadas nos índios na Amazônia que nos índios de SP.” De acordo com o Censo 2010 do IBGE, a população indígena é de 896,9 mil pessoas; 36,2% em área urbana e 63,8% em áreas rurais. São Paulo está entre os 10 municípios com a maior população indígena do país.
O “atual e agitado debate sobre pautas identitárias”, os “indígenas autodeclarados”, e a “crescente crítica e questionamento do uso do termo pardo” também foram assuntos citados e apontados como ainda não devidamente discutidos e centrais para o país.
O aumento do número de pessoas que se declaram indígenas foi apontado como uma grande novidade narrativa. No podcast “Nhexyrõ - artes indígenas em rede”, o artista Denilson Baniwa afirmou: “Eu concordo existir autodeclaração. Acho que qualquer pessoa pode se declarar indígena. Porém, já que você se declara, você tem que bancar o que é ser indígena. Porque ser indígena não é só se declarar e ficar postando no Instagram, ficar postando fotos pintadas com cocares e adereços bonitinhos. Ser indígena é muito mais do que uma aparência, é muito mais do que se dizer índio, né? (...)”
Alguns cientistas levantaram questões sobre a forma de categorizar algumas dessas comunidades tradicionais. “A categoria extrativista é transposta do período colonial e da borracha. Uma categoria social e econômica que ficou sendo usada hoje. Qual o problema com isso? É uma categoria que é associada à passividade e isso posiciona pequenos produtores e populações amazônicas dentro de uma categoria econômica sem valor social. E essa narrativa vem sendo reproduzida, principalmente, na área ambiental (...).”
Alianças históricas e as novas entre os povos tradicionais foram celebradas, indicadas como essenciais e apontadas como a serem ainda mais fortalecidas. A Aliança dos Povos das Florestas foi relembrada em várias entrevistas, a Marcha das Mulheres Indígenas e o encontro com as Margaridas incluídas entre os momentos-marco. A Teia dos Povos foi descrita como uma iniciativa que vem promovendo ações e discussões muito sofisticadas sobre identidade e direito à terra.
Para a população geral, o termo “povos tradicionais” não é autoexplicativo. Espontaneamente, fazem referência aos povos indígenas, eventualmente são citados também os quilombolas e ribeirinhos, mas surgem algumas confusões com tudo o que representa “tradicional” e ligado a comunidades com raízes antigas – incluindo, por exemplo, os portugueses colonizadores e imigrantes.
Esses públicos apresentaram generalizações sobre o que é ser indígena e têm visão estática da cultura. Eles tendem a fixar a contribuição social dos povos indígenas no passado, correlacionando esses modos de vida fora do mercado com pobreza e o acesso a telefones celulares, internet, automóveis etc. como indicativo de assimilação cultural – mais em Públicos não engajados.
"Acho que pouca gente no Brasil compreende a importância dessa dimensão cultural da sociodiversidade brasileira. Mesmo a esquerda está cega para isso.”
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“Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”, define a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT).
Estabelecida em 2007, a PNPCT foi criada em um contexto de busca de reconhecimento e preservação de outras formas de organização social por parte do Estado e tinha como principal objetivo promover o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia de seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade e suas instituições.
Diversos entrevistados de públicos engajados/interessados, especialmente cientistas e antropólogos, fizeram questão de traçar a cronologia da construção e adoção do termo “comunidades tradicionais”, especialmente para pontuar como algo muito recente na história do país.
A “ambientalização das lutas sociais a partir dos anos 1980”, ou a chamada "aliança com o movimento ambientalista”; “Chico Mendes e Aliança dos Povos das Florestas”; a “Convenção 169 da OIT – Organização Internacional do Trabalho”; a “Constituição de 1988”; a “Rio-92 e a Convenção sobre Diversidade Biológica”; a criação do “Conselho Nacional de Populações Tradicionais”; as “políticas públicas do primeiro mandato do governo Lula” foram os principais marcos citados para localizar o surgimento e o reconhecimento jurídico-formal, a adoção de políticas públicas e de processos burocrático-administrativos específicos para esses grupos.
Comunidades tradicionais: termo desconhecido, considerado confuso
Alguns entrevistados de públicos engajados/interessados levantaram dúvidas sobre a compreensão e uso do termo pela sociedade brasileira.
Para a população geral, o termo “povos tradicionais” não é autoexplicativo. Espontaneamente, fazem referência aos povos indígenas, eventualmente são citados também os quilombolas e ribeirinhos, mas surgem algumas confusões com tudo o que representa “o tradicional” e ligado a comunidades com raízes antigas – incluindo, por exemplo, os portugueses colonizadores e imigrantes. Entre os segmentos de formadores de opinião não engajados, observa-se também insegurança no domínio da terminologia, sendo principalmente associado aos povos indígenas.
Necessidade de repensar termos, usos e conceitos
Alguns cientistas levantaram questões sobre a forma de categorizar algumas dessas comunidades, que acabou comprometendo o valor social dado a elas pela sociedade.
No artigo “Populações tradicionais: introdução à crítica da ecologia política de uma noção”, de 2006, o antropólogo Henyo Barretto pontua: “o emprego do termo ‘tradicional’ para definir e/ou caracterizar seja esses grupos, o seu ‘estilo de vida’, a sua forma de apropriação dos recursos naturais e do território, dissimula a ausência de uma crítica semântica – todavia necessária. ‘Tradicional’, ‘arcaico’, ‘atrasado’, ‘primitivo’ e outros termos imprecisos e mistificadores – alguns dos quais a antropologia contemporânea conservou por comodidade e preguiça intelectual para designar certo tipo de sociedade”.
Povos indígenas da Amazônia, nos demais biomas e nas cidades
Durante as entrevistas com os públicos engajados/interessados, os povos indígenas foram muitíssimo mais citados que as comunidades tradicionais e, por isso, acabaram sendo o foco desta pesquisa.
Ainda que os povos da Amazônia tenham aparecido muito mais nas respostas – da pluralidade de realidades existentes ali à preocupação com a situação dos povos isolados –, diversos entrevistados discorreram sobre a necessidade de que seja dada mais atenção aos povos em outros biomas, como os indígenas no Nordeste, os Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul e os indígenas em grandes cidades, como Manaus e São Paulo. Essa demanda apareceu ainda com mais frequência entre os indígenas ouvidos.
Crédito: Sesc Bauru
Na publicação “Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil – Contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças”, lançada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 2021: “A Amazônia é o bioma sobre o qual se conseguiu reunir mais documentação, assim como há maior volume de informações sobre povos indígenas. Esse viés é atribuível à diferença no volume de fontes e de pesquisas. Por enquanto, são menos abundantes as fontes disponíveis sobre quilombolas e comunidades tradicionais. Basta lembrar que a população quilombola iria figurar, pela primeira vez, apenas no censo populacional que estava previsto para 2020”.
De acordo com o Censo 2010 do IBGE, existem 305 etnias no Brasil. Ao todo foram registrados 896,9 mil indígenas, 36,2% em área urbana e 63,8% em áreas rurais.
O Amazonas possui a maior população indígena do país, com 168,7 mil pessoas, seguido de Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Roraima e São Paulo. O conjunto dos 10 municípios com maior população indígena reúne 126,6 mil indígenas, correspondendo a 15,5% dos indígenas no país. São Gabriel da Cachoeira (Amazonas); São Paulo de Olivença (Amazonas); Tabatinga (Amazonas); São Paulo (São Paulo); e Santa Isabel do Rio Negro (Amazonas) são os cinco municípios mais populosos desse conjunto.
“O crescimento de 10,8% ao ano da população que se declarou indígena, principalmente nas áreas urbanas do país, foi atípico. Não existe nenhum efeito demográfico que explique tal fenômeno. Muitos demógrafos atribuíram o fato a um momento mais apropriado para os indígenas, em que estavam saindo da invisibilidade pela busca de melhores condições de vida, mais especificamente, os incentivos governamentais”, destaca o documento “Os indígenas no Censo Demográfico 2010 – primeiras considerações com base no quesito cor ou raça”.
Legenda: 'Esse lugar também é meu': Indígenas denunciam preconceito nas cidades brasileiras
Crédito: Mongabay Brasil
Crédito: Juão Nyn
O “atual e agitado debate sobre pautas identitárias”; os “indígenas autodeclarados”; e a “crescente crítica e questionamento do uso do termo pardo” também foram assuntos citados e apontados como ainda não devidamente discutidos e centrais para o país.
Em entrevista ao UOL, a escritora e pesquisadora de literatura indígena Julie Dorrico afirmou que "o movimento negro tem que reconhecer que essa contagem [de pardos como se fossem todos negros] acaba sendo etnocida com a população indígena. Eu sou classificada como parda, mas a minha amiga que é Pataxó, a minha amiga que é Guarani, minha amiga que é Kariri-xocó, elas também têm isso na certidão, carregam essa marca do pardo, mas são indígenas".
Crédito: TV Tamuya
No 2º episódio do podcast “Nhexyrõ – artes indígenas em rede”, o artista Denilson Baniwa, em conversa com o artista Jaider Esbell, disse: “Eu concordo existir autodeclaração. Acho que qualquer pessoa pode se declarar indígena. Porém, já que você se declara, você tem que bancar o que é ser indígena. Porque ser indígena não é só se declarar e ficar postando no Instagram, ficar postando fotos pintadas com cocares e adereços bonitinhos. Ser indígena é muito mais do que uma aparência, é muito mais do que se dizer índio, né? Em primeiro lugar, se a gente for olhar a Constituição, os indígenas são aquelas pessoas que a comunidade reconhece. Se nenhuma comunidade te reconhece, meu amigo, minha amiga, calma lá. Peraí, vamos com calma nisso. A gente não pode chegar na casa, em qualquer casa, e já ir sentando no sofá, ou na cadeira, ou deitando na rede. A gente chega de mansinho... Então, se você se descobriu índio, parabéns. Acho que é um grande passo a ser tomado no reconhecimento identitário da pessoa. Mas não é ser reconhecido índio hoje e depois querer fazer revolução indígena sem antes ter passado por nenhum processo indígena. É ok você se declarar, mas não é ok, por exemplo, você atropelar indígenas que estão na luta há muito mais tempo. Não é ok ultrapassar indígenas que estão em contextos piores. Porque, claro, quem está na cidade, apesar das dificuldades, está melhor do que quem está na aldeia, né? Hoje, é mais fácil um autodeclarado conseguir uma exposição de arte do que um artista indígena que viva na aldeia. Então, os autodeclarados precisam se ligar nisso”.”
Em junho de 2021, líderes indígenas iniciaram uma mobilização para estimular a autodeclaração no Censo 2022.
Em uma entrevista para a antropóloga Marta Antunes, do IBGE, o antropólogo João Pacheco de Oliveira destacou: “O Censo Demográfico de 1991 já apresentou muitas novidades, mas, ao analisarmos o de 2000, só podemos classificá-lo como espetacular em relação às interpretações que propiciou do Brasil. Este censo mostra índios em praticamente dois terços dos municípios brasileiros, destrói uma série de mitos em relação à concentração indígena em apenas determinadas áreas. Foi um marco fundamental e que ainda pode ser mais explorado pela antropologia. Com isso, não estou afirmando que não fosse necessário aperfeiçoá-lo. O Censo de 2010, por sua vez, aprofundou, sobretudo, com a colaboração da Fundação Nacional do Índio (Funai), os aspectos relativos às terras indígenas. É um censo que permite pela primeira vez individuar povos e línguas, o que considero extraordinário, um enorme avanço. Em contrapartida, o Censo 2010 deixou alguns aspectos a descoberto. Minha principal crítica diz respeito às populações indígenas residentes em cidades. Tenho participado de muitos encontros com etnólogos, em universidades de diferentes áreas do país, e sempre sinto uma insatisfação muito grande em relação aos dados apresentados sobre os índios residentes nos centros urbanos. Quando comparamos os resultados dos Censos Demográficos de 2010 e 2000, estranhamos a diminuição de indígenas nas cidades, porque não há qualquer possibilidade de se pensar que eles tenham se reduzido. De fato, vem aumentando a quantidade de indígenas que vão estudar e/ou trabalhar nas cidades, que são atraídos pela vida nos centros urbanos. Essa avaliação, compartilhada por organizações indígenas, entidades indigenistas e estudiosos da área, não coincide com os dados do Censo de 2010. Acho que houve um problema que deveria ser corrigido no próximo censo”.
Entre os públicos não engajados, há um grande desconhecimento. Muitas pessoas demonstraram insegurança em fazer afirmações sobre os povos indígenas, pontuando sempre o distanciamento e a pouca informação para embasar suas opiniões.
Esses públicos apresentam generalizações sobre o ser indígena, têm uma visão estática sobre cultura, tendem a fixar a contribuição social dos povos indígenas no passado, a correlacionar esses modos de vida fora do mercado com pobreza, há enorme dificuldade de compreensão e questionamentos aos direitos civis por parte da sociedade, especialmente o direito à terra – mais em Públicos não engajados.
Expectativa de maior visibilidade ao movimento quilombola
Depois dos povos indígenas, os quilombolas foram os mais citados, ainda que por um número bem menor de pessoas de públicos engajados/interessados. Os entrevistados apontaram que eles têm tido um pouco mais de visibilidade pública, identificaram maior interesse e apoio financeiro disponível por parte dos doadores, internacionais e nacionais, assim como muitos sugeriram ser importante maior conexão, aproximação com o movimento negro urbano.
O Brasil abriga cerca de 6 mil comunidades quilombolas, mas só 137 têm posse oficial das terras onde vivem, segundo o Observatório Terras Quilombolas da Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP).
Entre os públicos não engajados, o distanciamento foi ainda maior do que o das discussões sobre os povos indígenas; os entrevistados possuíam ainda menos contato, menos fontes de informação e compreensão sobre o assunto. Os economistas, líderes políticos e jornalistas mostraram mais familiaridade com o termo quilombola, colocado próximo à discussão de questões raciais e identitárias. Entre a população geral, foi mais associado à herança da história escravocrata, ou a discussões sobre preconceito racial. Muito poucos trouxeram espontaneamente questões sobre demarcação de terras, por exemplo.
Ribeirinhos e outros povos ainda mais invisibilizados
Um número ainda menor de pessoas achou importante mencionar os ribeirinhos e outros povos ainda muito invisibilizados.
Crédito: FIAN Brasil
Por outro lado, as alianças entre povos tradicionais foram celebradas e indicadas como essenciais por diversas pessoas. A Aliança dos Povos das Florestas foi relembrada em várias entrevistas, a Marcha das Mulheres Indígenas e das Margaridas incluídas entre os momentos-chave e a Teia dos Povos, articulação de extrativistas, ribeirinhos, povos originários, quilombolas, periféricos, sem terra, sem teto e pequenos agricultores em defesa da territorialidade e soberania alimentar, descrita como uma iniciativa que vem “promovendo ações e discussões muito sofisticadas sobre identidade e direito à terra".
A Teia dos Povos também apareceu em 2021, pela primeira vez, entre os perfis com maior alcance potencial no debate sobre povos indígenas no Twitter, segundo o levantamento da DAPP/FGV – mais em Redes sociais.
Nesse sentido, um pequeno número de entrevistados fez referências e elogios às confluências vividas e propostas pelo lavrador, pensador, escritor Nêgo Bispo, morador do Quilombo do Saco-Curtume, no Piauí, e autor, entre outros, de “Quilombos, modos e significados” e “Colonização, Quilombos: modos e significados”. Uma confluência entre os saberes diversos dos povos da-na-com a terra.
Não vai criar uma coisa monótona entre nós
Na mesa de encerramento da última edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) com o jornalista e sociólogo Muniz Sodré, Ailton Krenak disse: “essa invisibilidade dessa diversidade fantástica que o Muniz Sodré está falando, ela é tão impressionante que dizer que nós somos iguais é também sugerir que nós somos cegos, ou burros. Uma narrativa que quer instituir uma mesmice entre nós e pra nós, ela é uma ofensa. Eu gosto muito do Darcy (Ribeiro). Eu mesmo ia chamar umas citações do Darcy aqui. Mas eu queria dizer o seguinte. Se tem uma coisa que eu achava esquisita no Darcy era aquela ideia dele sempre evocar uma ideia de um povo brasileiro. Eu acho que era uma coisa ufanista, a veia ufanista dele. O povo brasileiro. O povo brasileiro não existe. É uma efervescência tão fantástica que a última coisa que você ia conseguir era criar uma coisa monótona entre nós. Alguém vai bater um atabaque, alguém vai tocar um apito, alguém vai fazer alguma cantoria, vai tocar um maracá, vai falar uma língua estranha (...)”.
Crédito: Flip